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Bege não é cor - nova exposição de Jane De Bhoni

Uma das queridas artistas plásticas representadas em Gramado pela Arte12b apresentou na última quarta na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul, sua mais nova exposição, intitulada Bege não é cor.


Exposição Bege não é cor
Foto de Sérgio Casagrande/Agência RBS

A exposição conta com a curadoria do também artista plástico Sérgio Lopes, e possui esse nome quase como uma provocação a tendência do uso de tons neutros na decoração, design e moda.


Por isso sobre um fundo bege - afinal, bege não é cor - Jane traz suas características figuras femininas em vestes coloridas e floridas, esbanjando estilo e sofisticação.



O flerte entre arte, moda e design é presença marcante das obras expostas, desde o tecido escolhido para as telas, um velour no lugar da tradicional tela em canvas, até a inspiração para a criação de cada estampa.


A exposição conta com a apresentação de Ana Mery Sehbe De Carli doutora em Comunicação e Semiótica. Abaixo você confere o texto na íntegra.


Bege não é cor - Por Ana Mery Sehbe De Carli


“... a cor, muito além de fenômeno visual, é um estado de ser, e é a própria imagem”.

Drummond de Andrade.


O flerte entre moda e arte já tem uma história. Poiret, em 1911, usou estampas de Dufy em seus casacos; Schiaparelli transferiu princípios do surrealismo para peças e acessórios de moda (1937); Saint Laurent bordou um spencer com os girassóis de Van Gogh e usou em vestidos o neoplasticismo de Mondrian (1965). Ronaldo Fraga, mais recente, ampliou o trânsito entre as linguagens da arte, a poesia de Drummond (2005) e a dança de Pina Bausch (2010) já inspiraram seus lançamentos de moda. Por outro lado Chanel, Jean Paul Gautier e outros tantos costureiros fizeram retrospectivas em museus.


Moda e arte se alimentam uma da outra em ricas interações. Elas se avizinham, esgarçam suas fronteiras quando representadas, mas mantém a fidelidade a seus propósitos.

Jane, nesta exposição, apresenta com mérito próprio um encontro elegante entre arte e moda. Sua qualificação acadêmica que contempla arte e design, suas viagens de pesquisa, sua vivência cotidiana como professora no efervescente Centro de Arte e Arquitetura da UCS, onde as artes visuais, a moda, a música, o design e a arquitetura trocam conhecimento, intensificam sua já privilegiada sensibilidade natural. A graça de compartilhar esse ambiente criativo é um alimento não só para a alma, mas para a produção artística. Jane aproveita com sabedoria e registra sua marca.


A exposição, segundo Jane, seguiu o processo de desenvolvimento de uma coleção de moda onde existe uma seqüência de ações para chegar ao lançamento.

Primeiro a escolha do tecido com acabamento em velour ao invés da tela áspera de canvas, o que já mostra uma reverência À moda, nesta área o tecido é a segunda pele, que nos envolve desde que nascemos, o seu (con)tato requer suavidade, carinho. Como segundo passo, vem a seleção de cores do pantone e a harmonização entre elas, depois a criação das estampas. Ai vem a linha, a silhueta ora fluída, ora reta, estruturada ou volumosa, que determina os tecidos e o caimento mais apropriado para cada uma delas. Por último, mas não menos importante, as figuras das obras ou “modelos da passarela” merecem considerações.

Na moda as estampas utilizadas numa coleção são, na maioria das vezes, desenvolvidas pelas tecelagens, nas peças desta exposição a artista desenvolve ela própria a estampa. Cria matrizes de flores e folhas que conforme combinadas abrem-se em leque para diferentes estampas. Não apenas as formas são resultado de meticuloso estudo, mas também as cores e suas harmonizações extraídas do pantone e do gosto requintado da artista dão originalidade a estamparia.


Os rostos das figuras não podem passar despercebidos, mesmo que a artista diga que os rostos atendem os mesmos preceitos das modelos nos desfiles de moda, ou seja, não devem ofuscar as roupas. É imprescindível apreciar a suavidade, as expressões fleumáticas, os olhos distantes, ausentes, a suavidade da pele de pêssego nos rostos das figuras. Muitos experimentos foram necessários para chegar ao domínio do acrílico sobre o velour, e o desafio foi vencido com excelente resultado. Vale notar que qualquer inconformidade neste processo não permite o retoque.


O fundo bege é uma excelente opção. “Bege não é cor”, pode ser uma afirmação, mas também uma interrogação, a resposta fica para o apreciador. Drummond já disse: “No princípio era a cor, e no fim será a cor, a alegria da percepção. Ou nem haverá fim, se concebermos a cor em si, flutuando no possível desinteressada de pouso e de tempo”.

Nos detalhes Jane declara sua preferência por alguns designers como Gucci e Dolce & Gabbana para os óculos de sol e, nos bordados com arabescos rococó, a referência é a designer chinesa Guo Pei, que segundo a crítica, “costura junto, sem emendas aparentes, moda e arte”.


O conjunto das obras, a coleção “Bege não é cor” da Jane é mais um primoroso encontro de arte e moda que tenho o prazer imenso de apresentar.


Ana Mery Sehbe De Carli


Outubro, 2019.


A exposição possui entrada franca e segue em visitação até o dia 30 de novembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados, das 10h às 16h, na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul.


E aqui na Arte12b você encontra outras obras da artista disponíveis para compra. Confira a página da artista em nosso site.


Créditos:

Foto de capa: Sérgio Casagrande/Agência RBS

Fotos: Sérgio Casagrande/Agência RBS; Galeria Arte Quadros; Jane De Bhoni Art.

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